domingo, 27 de fevereiro de 2011

Operário em construção

      Poema escrito por Vinicius de Moraes em meados da década de 50. Sobre ele sente-se a necessidade de refletir o trabalho como alicerce do homem e o processo do despertar da consciência de um operário aprendendo a identificar que seu produto era seu adversário e em equivalência era aliado do seu patrão. O operário consciente passa a disseminar o que descobriu para seus companheiros. A  concepção do operário o liberta da alienação, o que demarca a luta de classes entre o operário e o patrão.
    
 Era ele que erguia casas                                       
 Onde antes só havia chão.
 Como um pássaro sem asas 
 Ele subia com as asas
 Que lhe brotavam da mão.
 Mas tudo desconhecia 
 De sua grande missão:
 Não sabia por exemplo
 Que a casa de um homem é um templo
 Um templo sem religião
 Como tampouco sabia
 Que a casa quer ele fazia
 Sendo a sua liberdade
 Era a sua escravidão.

 De fato como podia
 Um operário em construção                      
 Compreender porque um tijolo
 Valia mais do que um pão?
 Tijolos ele empilhava
 Com pá, cimento e esquadria
 Quanto ao pão, ele o comia
 Mas fosse comer tijolo!
 E assim o operário ia
 Com suor e com cimento
 Erguendo uma casa aqui
 Adiante um apartamento

 [...]
 
 E o operário disse: Não! 
 E o operário fez-se forte
 Na sua resolução

[...]                                                            

 E um grande silêncio fez-se
 Dentro do seu coração
 Um silêncio de martirios
 Um silêncio de prisão.
 Um siêncio povoado
 De pedidos de perdão
 Um silencio apavorado
 Com o medo em solidão
 Um silêncio de torturas
 E gritos de maldição
 Um silêncio de fraturas
 A se arratarem no chão
 E o operário ouviu a voz
 De todos os seus irmãos
 Os seus irmãos que morreram
 Por outros que viverão
Uma esperanca sincera
Cresceu no seu coração
 E dentro da tarde mansa
 Agigantou-se a razão
 De um homem pobre e esquecido
 Razão porém que fizera
 Em operário construido
 O operário em construção.


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